domingo, 21 de janeiro de 2024

ANÍMICA



quando eu tinha todos os movimentos

eu era sol entre nuvens

aves de arribação

qualquer coisa de menos sólida

por haver.

eu via cachoeiras em meus sonhos

remanso de rios

pedra grande de sentar menino

florestas a esculpir.

 


sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

SER


Não tenho que estar aqui

ou em qualquer parte.


Não tenho porque sentir

desta ou de outra forma

aquilo que não sinto em mim.

 

Nada justifica ou nega

a minha existência,

mas reforça a tese

da inércia como norma.

 

Mas se estou inerte

a minha inércia é uma postura.

É um estar aqui.

 

O que sou é este vazio em mim.

Este ímpeto não direcionado

a pulsar num imenso vácuo.

Um deserto interior a buscar água

num deserto exterior projetado.

 

Sou esta ânsia e esta calma.

Sou uma coisa e outra e não sou nada.

Sei que existo e saber isso não me ajuda

(a consciência que tenho de estar acordado

é a certeza que tenho de não estar dormindo).

 

Sei que posso mudar alguma coisa,

uma vez que tenho espaço físico

para agir como se fosse livre.

Mas nada do que eu fizesse teria significado.

 

Seria um trocar de camisa

depois de um suposto banho.

Seria como atravessar a rua

trazendo a outra margem dela até mim.

Serei sempre eu mesmo e na pior circunstância

de nada ter mudado em essência.

 

Sou isto:

Um porão vazio

abarrotado de quinquilharias.


quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

ÓDIO


 

Ódio de tudo:

de ti, de

mim, da

sombra no

asfalto, das

conversas

dos vizinhos

comendo

churrasco e

arrotando

bobagens,

dos barulhos

no telhado,

da televisão

ligada em

programas

de auditório,

dos ruídos que

vem das ruas,

do ambiente

de trabalho, das

necessidades

fisiológicas dos

governantes, da

inteligência

pedindo

esmolas

aos agiotas,

dos restaurantes

abarrotados

(que raiva das

pessoas perfi-

ladas mastigando

qualquer carne),

ódio de tudo

e de todos,

neste momento

em que faço

uma análise

antes de deitar

o meu cansaço.

 

 

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

BALADA DOS NADADORES


 

O que havia era o mar

e a necessidade de atravessá-lo.

 

Sentar-se à sua margem

seria atravessá-lo em sonhos

e evitar o confronto de suas águas.

 

Mas o confronto dos sonhos

com a realidade fora da cama,

não precisa vir sob as vestes

profundas dos oceanos.

 

Um cadarço de sapato

demonstra isso e dispensa

os grandes cenários

que revestem o fracasso.

 

Lançar-se então despojado

das vestes que já não tínhamos,

seria entregar-se com ingênua esperança

à indiferença das ondas.

 

Mas o naufrágio do ímpeto

não é devido somente

à insipidez do externo,

é antes uma interiorização

do medo que flutua sobre as águas.

 

Melhor seria pois atravessá-lo

em silêncio de homem que tece

a esperança de um barco com os escassos

recursos encontrados no vazio das noites.

 

Então o homem senta-se à margem do mar

e deposita o seu barco de fibra de sonho.

Com derradeiro espírito de luta avalia

o embate doloroso com as ondas. São mínimas

as probabilidades de êxito, ele sabe.

 

Mas como havia a necessidade,

o homem se joga na correnteza

e aceita lutando os golpes previstos.

Resistiu como um inseto no copo e o seu

corpo depois foi encontrado na praia, boiando.

 


 

domingo, 7 de janeiro de 2024

PENSAMENTOS



 
"Conheça seu cônjuge no divórcio, seus irmãos no inventário, seus filhos na velhice, seus amigos na dificuldade".

AUGUSTO HASTENREITER

quinta-feira, 10 de agosto de 2023

quarta-feira, 9 de agosto de 2023